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4 de novembro de 2009

O materialismo espiritual


Por Fernand Schwartz

As pessoas costumam começar um trabalho espiritual com idéias pré-concebidas sobre o que irão aprender. Embora as aspirações de cada um, ao chegar à Nova Acrópole, sejam sinceras, trazem consigo uma boa dose de confusão, incompreensão e de esperanças.

A evolução correta, no caminho espiritual, é penosa e sutil. Podemos nos iludir acreditando que estamos evoluindo espiritualmente, quando, na realidade, estamos apenas utilizando técnicas espirituais para reforçar o ego. Chamamos a isso: “materialismo espiritual”, que só faz reforçar a nossa materialidade.

O materialismo não é somente crer na matéria. Se fosse apenas isso, não seria difícil desfazer o problema, porém, o materialismo esconde-se sob as mais diversas formas, prejudicando o desenvolvimento do Ser interior, impedindo-o de transcender. Produzimos auto-ilusões que ocultam o que somos, mas agradam ao ego, do tipo: “Eu sou bom” ou “- Oh! como eu sofro! e que são exemplos de máscaras que usamos em sociedade para sermos aceitos.

A alma, desconhecendo-se, tem medo. Quer as garantias do já conhecido. Não quer surpresas, com as quais talvez não saiba lidar, preferindo o que lhe é familiar. É o engano no qual todos nós caímos: queremos nos assegurar, de antemão, do êxito, qualquer que seja o ensinamento que estamos buscando, e ao fazermos isso, caímos no reducionismo ideológico e transformamos a doutrina em utopia, mesmo a mais espiritual.

Quando se quer criar uma fraternidade, para trabalhar com uma determinada quantidade de pessoas, este é o trabalho essencial: somos obrigados a ir além desses disfarces, além dessas auto-ilusões, porque, se não for assim, as relações estabelecidas com os demais nunca serão verdadeiras. Se forem baseadas nas aparências, estarão distantes de tudo o que é verdadeiro e o Eu necessita de coisas similares para consolidar-se, para tornar-se forte.

As ideologias burguesas, que surgiram quando o sistema tradicional da sociedade foi destruído, são materialistas, em qualquer parte do mundo onde estejam sendo seguidas e são ideologias reducionistas, que necessitam de formas muito restritas: “Faça isto ou aquilo”, “não saia às tantas horas” etc.

O ego, necessitando sentir-se seguro, lança mão de qualquer ferramenta ao seu alcance, seja religiosa, espiritual ou científica, contanto que lhe preencha a carência. Essa mentalidade, que procura fazer apenas o que é socialmente correto, não ama o risco nem o sacrifício.

A evolução desse tipo de cultura nos últimos séculos - a do pequeno eu auto-ilusório - engendrou a civilização na qual vivemos e provocou as dificuldades que todos temos para sair da auto-ilusão e ir mais longe, na busca espiritual verdadeira.

Na literatura, encontramos pouquíssimos textos que falem em desapego e combate interior. O que oferecem são receitas supostamente mágicas, para o caminho da felicidade, caminho esse que o homem vem procurando desde tempos imemoriais, navegando sempre na superficialidade, pois é muito árdua a viagem ao seu Ser interior.

O ego é vencedor no século XXI, pois está possuído pela filosofia burguesa que neutraliza o enfrentamento com a realidade.

Será possível, para o homem moderno, levar a cabo uma transformação consciente, apesar da humanidade nunca ter estado tão desequilibrada como hoje?

O dever do filósofo é desembaraçar o caminho do que se interpõe entre a luz e nós.


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