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15 de julho de 2010

A filosofia ontem e hoje



Por Delia Steinberg Guzmán

Co-diretora Internacional da Escola de

Filosofia Nova Acrópole


A filosofia tem sido representada muitas vezes pela imagem de uma mulher mais ou menos séria, altiva e bonita que gera ao seu redor sentimentos desencontrados: de atração e dificuldade, de anseio e admiração, desejo e recusa.


Talvez a culpa não seja de seu porte digno, nem de sua roupa, mas sim do texto que, às vezes, leva na mão, ao que muitos tacham de incompreensível ou inútil, por não responder às suas necessidades imediatas ou ao programa de vida diário. Tudo isso responde à realidade da Filosofia Antiga, ou é uma deformação gerada pela longa viagem que sua imagem realizou no tempo?


Perguntemo-nos: gostaríamos de ser feliz, não ter carências, ser fortes na adversidade, ser livres e bons? Gostaríamos de ter uma vida plena e perfeita, viver divinamente?


Pois tudo isso e muito mais são dons da sabedoria e a Filosofia é o amor à Sabedoria.


Acabamos de descobrir a pólvora mais uma vez, sabemos o que procuramos, mas a questão é: sabemos como encontrar? Porque desejar não é difícil, o difícil é encontrar, e será tão mais difícil se não colocarmos os meios, se não formos responsáveis com nossos desejos mais íntimos. O absurdo ou paradoxo humano mais freqüente é procurar algo e caminhar na direção contrária, assim é como nos perdermos, nos sentimos longe da meta, desorientados e sós.


E ainda nos perguntamos: essa sabedora ou vida perfeita e plena, está fora de nós? É algo que podemos conseguir? Não, não é possível! O fim mais nobre da vida não pode depender das circunstâncias, tem que depender de nós mesmos. Ao não poder controlar as circunstâncias nem os outros estaríamos nas mãos de nossa namorada, marido, pais, amigos, instituições, forças da natureza... O mundo teria que ser a nossa medida, e não, não é!


Ortega dizia (e muitos o escutaram): "Eu sou eu e minhas circunstâncias."


Façamos um simples esquema:


Circunstâncias ------- Eu

Dependência --------- Autonomia

Escravidão ----------- Liberdade

Sofrimento ---------- Felicidade

Mal ------------------- Bem

Ignorância ----------- Sabedoria


Caminho Filosófico


A Filosofia é o caminho que leva das circunstâncias ao Eu mesmo, da Ignorância à Sabedoria. Não é um instrumento, pois nasce no coração humano, não é exterior ao filósofo, é Amor (ou um desejo muito forte) que nasce no filósofo, não vem de fora, nem de Platão, nem de Sócrates, ou de Aristóteles, eles são somente um exemplo, algo que pode estimular-nos. A filosofia de cada um é seu Amor à perfeição da vida que é a Sabedoria. A Sabedoria está no Universo, mas nasce e se expressa no Sábio como um modelo, que pode ser seguido, mas não transferido.


A ignorância, entretanto, nasce de mim, da minha falta de Eu, de minha falta de ser. Logo, Como me aproximo da Sabedoria? Transformando-me pelo caminho do Amor à Sabedoria, pelo caminho da Filosofia. O instrumento sou eu, e me transformo servindo ao Amor, servindo à Filosofia. Aproximarmo-nos da Filosofia é aproximarmo-nos de nosso coração, de nossos desejos mais profundos, para a verdadeira meta da Vida. Nosso problema é, sobretudo, de atitude, de disposição equivocada e, também da falsa imagem do que é Filosofia.

Um comentário:

  1. "Não é um instrumento, pois nasce no coração humano..." tá aí o que provavelmente todos os filósofo à maneira clássica tentam expressar e DSG o faz em poucas palavras.
    Obrigada por compartilhar, Sr. Sócrates. =)
    Um abraço.

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